Educação sexual e o negligenciamento sobre o assunto para pessoas com deficiência

21/11/2023
09:40:48

Falar sobre sexualidade por si só já é um tabu. Falar sobre sexualidade para pessoas com deficiência é um tabu ainda maior. Assim como qualquer pessoa, aqueles que têm deficiência também possuem desejos e sentimentos. Essa característica muitas vezes é reprimida pela família e pela sociedade por conta do preconceito de por acreditar que eles não podem fazer parte desse universo devido a sua condição. 

A psicóloga Nivia Bianca, coordenadora de saúde da Federação da Apaes de Sergipe, explica que a sociedade tende a acreditar que pessoas com deficiência possuem um desejo sexual mais aflorado que as outras. Segundo ela, esse pensamento está equivocado, pois se trata da falta de instrução adequada que não lhes é oferecida. 

A verdade é que a falta de acesso à educação sexual, segundo profissionais e pesquisadores, afeta a autonomia. As pessoas privadas dessas informações podem ser afetadas no sentido de não tomarem suas próprias decisões em relação ao seu corpo e sua sexualidade, por exemplo.  

Com o objetivo de mudar essa realidade para os assistidos, a Apae Aracaju realizou ao longo do mês algumas ações em parceria com a equipe da Federação da Apaes de Sergipe, sobre a temática. As palestras foram ministradas pela coordenadora de Saúde da Federação e pelo coordenador de Esportes, Nívia Bianca e Denis Carlos. Duas palestras foram focadas especialmente para os assistidos, entender as suas demandas e compartilhar um pouco sobre a educação sexual de fato. 

A terceira palestra foi direcionada aos pais e familiares. São eles que convivem boa parte do dia com os assistidos e que devem introduzir e conduzir esse assunto em casa. 

“Esse é um assunto muito pouco abordado dentro das nossas casas, até pela nossa criação mesmo. Nossos pais e avós não tinham o costume de conversar sobre sexo, então mesmo que a gente queira não sabemos como iniciar esse diálogo da forma correta. Por isso que a presença de um profissional é tão importante, pois ele vai conduzir a conversa da melhor forma - tanto para nós, pais, quanto para os assistidos - e explicar como podemos instruir nossos filhos em casa.”, diz Andreia Rodrigues, mãe da assistida Analu, que participou da ação. 

“Falar sobre educação sexual deveria ser uma prática desde a infância. Infelizmente eles não têm essa orientação que deveria ser passada pela própria família.”, ressalta a psicóloga e coordenadora de saúde da Feapae/SE. 

Luciano Bispo e Ana Maria são assistidos da Apae. Ambos são adultos de cinquenta anos de idade e estão juntos há 13 anos. Segundo Luciano, o diálogo com a família foi essencial no relacionamento. Eles tomam as suas próprias decisões e são instruídos sobre todos os cuidados que devem tomar ao iniciar sua vida sexual. “A gente sabe de todos os cuidados, sabemos que tem que usar preservativo, cuidar da saúde e respeitar a vontade do outro.”, relata. 

“É isso que eles querem, serem tratados como todas as outras pessoas. Querem passear, namorar, trabalhar, casar, ter filhos e ter uma vida social como todo mundo. Eu como mãe tenho que respeitar as decisões da minha filha. Por isso, quando existe um projeto desse dentro de uma Apae a gente se vê acolhido. Porque é através dele que a gente pode compartilhar e entender a forma que eles pensam, agem, para dar um suporte melhor” conclui Andreia. 

Como a educação sexual pode prevenir diversos tipos de violência

Muitas pessoas acreditam que a educação sexual é o ensinamento da prática e que tem por objetivo estimular a atividade sexual. Na verdade a temática explora outros campos, a exemplo de questões como doenças sexualmente transmissíveis, abuso sexual, respeito e violência de gênero. 

Segundo dados obtidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), analisados pela associação Gênero e Número, por dia 7 mulheres com deficiência sofrem violência sexual no Brasil. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), embora a violência afete mulheres em geral, mulheres e meninas com deficiência possuem um risco ainda maior de sofrer abusos devido a fatores de vulnerabilidade e descriminação. 

A educação sexual é eficaz no enfrentamento a violência sexual e de gênero pois acende  uma luz em relação ao respeito e cuidado com o corpo. Na ação desenvolvida na Apae Aracaju, a instrução foi passada tanto para as mulheres quanto para os homens.

Fagner Santos, assistido da instituição apaeana, participou da ação promovida junto com a Feapae/SE e conseguiu enxergar dentro da temática de educação sexual uma fragilidade para ocorrência da violência contra a mulher. “Acho que esse assunto quando não é discutido pode gerar violência. Porque quando a pessoa não entende sobre o respeito e não entende que independente da roupa que a mulher esteja usando ele não tem o direito de tocar o seu corpo, isso pode gerar uma violência contra ela”, diz Fagner.